domingo, 4 de abril de 2021

Notas para um "Roteiro macabro de São Luís" (1)

 


Um roteiro macabro de São Luís do Maranhão deve incluir o cemitério do Gavião. Não pela obviedade de ser um cemitério, mas por ali ter acontecido eventos notáveis. Um deles, que ganhou bastante repercussão, se passou há cerca de 40 anos.

Certa mulher que já estando a ponto de descer à cova, de súbito se sentou no caixão, causando pavor em quantos viram a horrível cena. O acontecimento, é claro, causou comoção nos bairros do entorno, Madre Deus, Lira, Belira, Codozinho.

Centenas de populares dispararam em direção ao campo santo para conferirem de perto o acontecimento sobrenatural. E, não conseguindo ultrapassar os altos portões ferro, se concentraram na praça em frente, onde formou-se uma multidão.

Muitos anos depois, quando eu trabalhava no extinto Diário do Norte e fazia matéria para Dia de Finados, conversei com um funcionário que presenciou tudo. Com os pelos eriçados só de lembrar do episódio que ainda lhe causava arrepios, ele confessou, sentado sobre um túmulo: “Meu amigo, foi a coisa mais horrível que vi em toda a minha vida”.

Um amigo (vou chamá-lo de João) me relatou a cena medonha que certa vez teve a má sorte de presenciar, também na área do dito cemitério. Era madrugada. Chovia torrencialmente. João havia tomado umas biritas e seguia ladeando o muro do campo santo, não vendo a hora de chegar em casa.

Então divisou a alguns metros de distância algo que o fez congelar. Algo que o deixou tão atordoado que só mais tarde, quando a febre e os calafrios passaram, lhe foi possível entender o que realmente havia acontecido. A chuva intensa tinha enfraquecido o muro do cemitério, que cedeu, fazendo escorregar para fora um caixão apodrecido.

E o que meu amigo conta ter visto? A metade superior do que restava de um cadáver feminino que, ultrapassando o limite do muro perfurado, avançava para a calçada em suas vestes brancas. Pendendo do crânio putrefato, uma comprida cabeleira.

O cemitério do Gavião foi inaugurado em setembro de 1855, depois que algumas epidemias colapsaram o chamado Cemitério de São Pantaleão, que até então servia aos ludovicenses. Mas essa é uma outra história.

Adesão do Maranhão à Independência