Os ingleses, por razões históricas, tiveram forte presença social e econômica na São Luís do século XIX. Para o leitor ter uma ideia, eles eram proprietários de grandes sobrados na Praia Grande, mantinham rentáveis firmas comerciais e ocupavam cargos de peso e comando.
Viviam
bem, muito bem, em suas residências com terraços para o chazinho das cinco,
realizando seus serviços religiosos em suas próprias casas e compartilhando, apenas
entre eles, o prazer das festas, da prática de esportes e de outras atividades
sociais. Tudo no mais perfeito estilo britânico.
Fato é
que se os maranhenses, em contrapartida, não morriam de amores pelos os
ingleses, os ingleses, como já se viu, queriam o máximo de distância dos
maranhenses. E não apenas neste mundo, mas também no outro.
Só pra
garantir, eles construíram seu próprio cemitério.
O Cemitério dos Ingleses, como
era chamado, ficava na rua de São Pantaleão, em frente à igreja de mesmo nome. Mais
precisamente onde hoje funciona uma escola e onde, décadas atrás, havia um
jardim de infância que deu lugar a uma caixa d’água.
Por
fim, se ainda faltava comprovação do menosprezo dos ingleses pela cidade e
pelos seus moradores, esta veio quando eles começaram a fazer o caminho de
volta pra casa. Sem querer deixar nada para trás, exumarem os que tinham sido
enterrados no cemitério e trataram de transportar os restos mortais para seus
lugares de origem.
Só que,
como mais tarde se soube, não conseguiram levar todo mundo.
Conversando faz algum tempo com uma diretora da escola construída sobre o terreno do cemitério, ela relatou que pedaços de ossos humanos de vez em quando eram encontrados no local. Restos de quem foi deixado para trás, e que, como numa continuação da antiga rixa entre ingleses e maranhenses, seguiam assombrando quem trabalhava no local.