O que você faria se
descobrisse que um encontro seu em um motel não foi assim tão íntimo quanto você
supunha? Pois saiba que nos Estados Unidos um homem fez do seu motel um observatório
particular, bisbilhotando durante anos os momentos íntimos de centenas de
pessoas. Dito isto, vai o recado: quem
gosta de uma boa reportagem deve ler correndo “O voyeur”, de Gay Talese. Publicado
no Brasil pela Companhia das Letras, o livro conta a incrível e espantosa história
de Gerald Foos, que passou anos abelhudando as relações íntimas dos clientes do
Manor House Motel, de sua propriedade, tanto para satisfazer seus próprios
instintos como para, segundo ele, contribuir para o melhor entendimento da
sociedade.
Foi uma década e meia de
voyerismo, tempo em que Foos preencheu centenas de páginas de um diário onde
anotou de forma minuciosa o comportamento sexual de seus hóspedes, com o propósito
de que o relato fosse usado em estudos e ajudasse a iluminar nossas concepções
sobre sexo, relacionamentos e desejo.
Nas pesquisas efetuadas
por Talese, o jornalista encontra um complexo registro das observações do
proprietário, que são um reflexo das transformações morais e sexuais da
sociedade americana no período. Por fim, para apimentar a história, entre os
relatos aparece ainda o testemunho de um assassinato, que Foos anotou em seu
diário sem, contudo, relatar à polícia, com temor de ser descoberto.
Destaque do livro: as anotações originais que Gerald Foos produz depois de cada sessão acompanhadas ao final de uma conclusão. Como a que escreveu depois de observar por alguns dias o cotidiano de uma jovem que se hospedara sozinha no Manor House Motel. E que ele descreveu como branca, 21 anos, 1,67m, cerca de 50kg, olhos verdes, cabelos ruivos e pele cremosa.
“Ela está passando
por um momento difícil, obviamente, ajustando-se ao novo ambiente em Denver, e
parece ter sido tomada pela depressão e solidão. Mas a masturbação parece
preencher um pouco desse vazio, pelo menos temporariamente. Depois de observar
muitos indivíduos, minha pesquisa conclui que mulheres têm uma tendência a se
masturbar mais por depressão que que qualquer outra coisa. Os homens se
masturbam puramente por alívio físico. Este objeto de estudo feminino em
particular, ao masturbar-se diante de um espelho, está tendo uma segunda
perspectiva, e eu, no sótão, uma terceira”.