terça-feira, 25 de junho de 2019

O voyeur: espetacular reportagem de Talese



O que você faria se descobrisse que um encontro seu em um motel não foi assim tão íntimo quanto você supunha? Pois saiba que nos Estados Unidos um homem fez do seu motel um observatório particular, bisbilhotando durante anos os momentos íntimos de centenas de pessoas.  Dito isto, vai o recado: quem gosta de uma boa reportagem deve ler correndo “O voyeur”, de Gay Talese. Publicado no Brasil pela Companhia das Letras, o livro conta a incrível e espantosa história de Gerald Foos, que passou anos abelhudando as relações íntimas dos clientes do Manor House Motel, de sua propriedade, tanto para satisfazer seus próprios instintos como para, segundo ele, contribuir para o melhor entendimento da sociedade.
Foi uma década e meia de voyerismo, tempo em que Foos preencheu centenas de páginas de um diário onde anotou de forma minuciosa o comportamento sexual de seus hóspedes, com o propósito de que o relato fosse usado em estudos e ajudasse a iluminar nossas concepções sobre sexo, relacionamentos e desejo.
Nas pesquisas efetuadas por Talese, o jornalista encontra um complexo registro das observações do proprietário, que são um reflexo das transformações morais e sexuais da sociedade americana no período. Por fim, para apimentar a história, entre os relatos aparece ainda o testemunho de um assassinato, que Foos anotou em seu diário sem, contudo, relatar à polícia, com temor de ser descoberto.

Destaque do livro: as anotações originais que Gerald Foos produz depois de cada sessão acompanhadas ao final de uma conclusão. Como a que escreveu depois de observar por alguns dias o cotidiano de uma jovem que se hospedara sozinha no Manor House Motel. E que ele descreveu como branca, 21 anos, 1,67m, cerca de 50kg, olhos verdes, cabelos ruivos e pele cremosa.
Ela está passando por um momento difícil, obviamente, ajustando-se ao novo ambiente em Denver, e parece ter sido tomada pela depressão e solidão. Mas a masturbação parece preencher um pouco desse vazio, pelo menos temporariamente. Depois de observar muitos indivíduos, minha pesquisa conclui que mulheres têm uma tendência a se masturbar mais por depressão que que qualquer outra coisa. Os homens se masturbam puramente por alívio físico. Este objeto de estudo feminino em particular, ao masturbar-se diante de um espelho, está tendo uma segunda perspectiva, e eu, no sótão, uma terceira”.   


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