Ela sai para votar. Diz que se o voto
fosse facultativo, talvez ficasse em casa. Mas como a lei a obriga, toma o
ônibus e vai.
Cumpre finalmente o dever cívico, torcendo
no final das contas para que seu candidato, se eleito for, pelo menos cumpra os
compromissos firmados. E de algum modo orgulhosa, embarca de volta para casa pensando
em aproveitar o feriado que seria de descanso, não fosse o que vem na
sequência.
Um grupo de homens entra no coletivo. Armados
de faca, anunciam um assalto.
Não querem outra coisa além de celulares
e impondo o terror, ordenam que o motorista prossiga sem fazer paradas até que
todos os aparelhos sejam recolhidos.
O percurso, do retorno do São Francisco
até as imediações da Igreja do mesmo bairro, é curto, mas tenso, quase
desesperador. Olhando pelas janelas, ela torce para que apareça alguma patrulha
da Polícia Militar. Nada! Então reza para que os ladrões se mantenham calmos,
não ferindo ou matando alguém.
Finalmente os assaltantes ordenam ao
motorista que pare. Ele obedece e os homens descem correndo, tomando a direção
à Ilhinha. Um gemido: uma passageira que entrara em pânico se jogara para fora,
e parece que quebrou um dos pés. Mas o pior já passou.
Confusa, tentando entender, ela apalpa a
bolsa, como se fosse possível que o celular, que acabara de entregar para os
ladrões, ainda pudesse estar em seu poder. Encontra apenas o título de eleitor
acompanhado do recibo de votação. À noite, pela televisão, soube que seu
candidato ganhou. Mas não viu motivo para comemorar.